sábado, 8 de outubro de 2011

Denunciar a violência já é um ótimo começo


A reação só acontece se houver ação

   Por Antonio Siqueira
   Do Rio de Janeiro



@image_Steve McCurry





    








     
      Muito se fala sobre a campanha do Dia das Crianças da Rede Social de Mark Zuckerberg, o disputado Facebook. Especulou-se de tudo um pouco, inclusive que seria um plano que partiu de um possível grupo de pedófilos que freqüentam a rede para ‘sei lá o quê’; Boataria que não surpreende numa rede com mais de 400 milhões de usuários em interatividade direta. A verdade é que em 24 horas, 100 mil pessoas mudaram suas fotos do avatar por um personagem de desenho animado para aderir a uma campanha contra a violência infantil. A ação foi lançada pelo blog Insoonia e apoiada pela empresa de marketing O Melhor da Vida, e pede que usuários da rede social troquem seu perfil pela imagem de um personagem de desenho animado ou de história em quadrinhos. A idéia é manter a nova foto até o Dia das Crianças. Eu, como todo escriba louco que se preze, tenho Facebook e o meu Cascão, o popular personagem malandríssimo e que não gosta de banho do genial Mauricio de Souza, está lá lépido e fagueiro.

      A iniciativa é muito nobre, apesar de partir de empresários que exploram o que podem e o que não podem da doença consumista do cidadão moderno. É um protesto pacífico e que traz um bom astral que não tem preço. Porém, é preciso muito mais do que uma campanha plantada no coração do capitalismo digital. Dezoito mil crianças são vítimas de violência doméstica por dia só no Brasil, segundo os velhos dados mal contados da UNICEF. A UNESCO apresenta dados idênticos, mas no meu caso, fica difícil confiar em uma instituição que emprega embaixadores como Renato Aragão, ou Didi Mocó, ou seja, lá o que for. Ainda o incumbem de arrecadar dinheiro para causas que mal servem como paliativo numa situação quase terminal. E associar a imagem deste cidadão global a dinheiro é como incumbir à raposa a função de cuidar do galinheiro. Como tudo neste país, diga-se de passagem. E não é somente sentado à frente de seu computador e se enchendo de refrigerante, comendo muito bem e engordando que você mudará algo.

      Criamos o monstro para que nossos desejos vaidosos se façam presentes e realizados; depois doamos 10 Reais inclusos na conta telefônica e que tenhamos uma noite tranqüila de sono e a próxima missa de domingo. Não preciso ir muito longe e nem sair da minha varanda, onde manuscrevi este artigo, para detectar a miséria e a carência infanto-juvenil; E como achamos tudo isso muito normal em pleno século XXI, não é mesmo? Crianças que deveriam estar estudando, trabalhando nas piores condições, exploradas por comerciantes que denuncio há algum tempo, mas que vêem a impunidade como alicerce seguro para esse crime bárbaro. Crianças mendigando nos sinais de transito, nos restaurantes que neste bairro não são poucos. O Brasil e principalmente, o Rio de Janeiro, transformaram-se num gerador descontrolado de criminosos comuns. O sucateamento da educação foi o principal agente corrosivo que provocou esta tragédia gigantesca, isso aliado à pobreza e a miséria das regiões de periferia é como uma ogiva de destruição incalculável.  E a definição de Pobreza é simples: significa não ter casa decente nem roupas limpas. Pobreza significa não ter água limpa para beber nem comida boa para comer. Pobreza significa não ter escola, hospital, nem médico. Um gigantesco portal escancarado para que o narcotráfico adote esses menores miseráveis e as transformem em milhões de vidas marcadas para morrer. Morrem nesse combate de um lado ou de outro nas fronteiras invisíveis que demarcam todas as ruas, mas, principalmente, pelos becos das favelas. Esses pequenos seres, quando sobrevivem, perdem pedaços, membros... Perdem a alma.

      Discute-se muito mais a pena de morte e a maioridade penal do que a recuperação da infância e da adolescência e, conseqüentemente, de uma nova sociedade Os parlamentares bisonhos que não acreditam na educação e no potencial humano ressuscitam no Congresso algumas dessas bombas: Propostas de endurecimento de penas para jovens em conflito com a lei, incluindo o clichê da redução da idade de responsabilização penal. Rebaixar a idade parece solução, mas é gasolina no fogo: Se o crime organizado busca menores de 18 anos para suas fileiras porque a lei é para eles “menos dura, mais educativa”, ao rebaixar a idade de responsabilidade penal os jovens que serão atraídos ao crime serão os ainda mais jovens. E numa sociedade viciada em consumo de grifes e modismos catatônicos, o monstro tende a devorar tudo que estiver em volta e a essa guerra carregada de equívocos será sempre uma sucessão de batalhas inglórias.

      Mas não se deve esperar nada do Governo, seja ele qual for, neste Brasil falido sócio-culturalmente e desigual em todos os seguimentos sociais e econômicos. Principalmente no que concerne à educação e cultura para o seu filho ou qualquer criança. É possível sim, despertar nestas mesmas crianças o hábito da leitura tirando proveito de todos os milhares de títulos que existem nas prateleiras e da necessidade de ampliar os horizontes dos pequenos com uma literatura livre das amarras da super proteção e do mundo apenas para consumo. E proteger essas crianças de qualquer adulto opressor, denunciar o seu vizinho que espanca o filho e violenta a mãe dele já é um bom começo. Depois iremos todos comemorar com personagens de histórias em quadrinhos e desenhos da TV, não importando se querem nos vender e empurrar mais lixo mercantilista goela a baixo. O consumismo sempre haverá de existir, até que os últimos seres humanos devorem a ultima maçã e bebam o ultimo gole d’água, a morte um dia chega para todos. Que Deus salve as nossas crianças e que o ajudemos a cuidar para que momentos como o registro desta foto do genial fotógrafo Steve McCurry, sejam cada vez mais raros.


Fontes:    Issoonia Blog         UNESCO             Time Magazine


Imagem: Steve McCurry, o mesmo reporter que fotografou a menina afegã que foi capa da Revista Time.



* Antonio Siqueira é articulista, musico e critico de arte





 


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