domingo, 31 de agosto de 2014

Genocídio Autorizado

Por Antonio Siqueira - Do Rio de Janeiro


Genocídio 


















Nas últimas semanas tem chamado a atenção, mais uma vez, a diferença de tratamento entre dois temas e dois países: a Rússia, no âmbito da crise ucraniana, e ­Israel, no contexto de seu confronto com o Hamas e a destruição física e humana da Faixa de Gaza. Moscou – cujo governo pode ter, naturalmente, seus defeitos – tem sido acusada de agir como potência agressora no país vizinho, quando, na verdade, está defendendo o último espaço teoricamente neutro que lhe restou após a queda do muro de Berlim. Quando do fim da União Soviética, e do próprio desarme nuclear da Ucrânia, os Estados Unidos comprometeram-se a não atrair os países do antigo Pacto de Varsóvia para a órbita da Otan, e, assim, não cercar, com tropas hostis, o território russo.

De lá para cá, em menos de 20 anos, várias nações, entre elas a República Tcheca, a Hungria e a Polônia, abdicaram de qualquer neutralidade e se agregaram à aliança ocidental, envolvendo a Rússia com um anel de aço. Nele, não existem apenas soldados inimigos, mas também podem ser colocados mísseis com capacidade de atingir as principais cidades do país em poucos minutos, e em menos da metade do tempo do que levariam suas armas nucleares para chegar ao território dos Estados Unidos.

Quando da “independência” da Ucrânia, em 1989, ficaram dentro de seu território milhões de russos étnicos que haviam compartilhado durante anos, com os ucranianos, a cidadania soviética. Esses cidadãos não aceitam se aliar ao “ocidente” para combater sua própria gente, sua própria história, sua própria cultura, que estão também nos territórios russos que existem do outro lado da fronteira.

Antes da queda do governo que estava no poder até fevereiro, os russos subsidiavam o gás vendido à Ucrânia, e procuravam estabelecer com ela maiores laços econômicos, para que o país não caísse totalmente sob a influência dos Estados Unidos e da União Europeia. Manobras ocidentais romperam o precário equilíbrio existente dentro da sociedade ucraniana, levaram à queda de Yanukovich e à ascensão, pela primeira vez depois da Segunda Guerra Mundial, de membros de partidos neonazistas a um governo de um país europeu. A isso, se seguiu a ocupação, por Putin, da mais russa das regiões ucranianas, a Crimeia. Por mais que a imprensa dos Estados Unidos diga o contrário, no mundo real nem o governo ucraniano nem o atual governo israelense podem ser “vitimizados”.

O magnata Petro Poroshenko chegou ao poder no rescaldo da derrubada de um governo eleito, sob um pretexto que até hoje é colocado em dúvida: a morte de civis na etapa final das manifestações da Praça­ Maidan, por policiais ligados ao REGIME anterior, quando, na verdade, há fortes indícios de que os tiros foram disparados por franco-atiradores neonazistas, interessados em criar um fato que servisse de “ponto de virada” na situação ucraniana.

No caso da derrubada, não do governo Yanukovich, mas do avião malaio que caiu no leste da Ucrânia, é preciso perguntar: a quem interessava o crime?

Com vários aviões de guerra abatidos nas últimas semanas, e impossibilitado de retomar, pelas armas, grandes cidades como Donetsk e Karkhov, o governo ucraniano encontra na queda de um avião civil, com grande número de passageiros ocidentais a bordo, um excelente “ponto de virada” para tentar impedir que os independentistas de etnia russa continuassem a derrubar suas aeronaves, e colocar Putin contra a parede, obrigando-o, por sua vez, a pressioná-los.

Afinal, o presidente russo acabara de marcar importantes pontos em seu jogo de xadrez contra os Estados Unidos, retornando de vitoriosa viagem à América Latina, na qual participara da criação do Banco e do Fundo de Reservas do Brics, e mostrara que tem suficiente jogo de cintura para se furtar às tentativas “ocidentais” de isolá-lo internacionalmente.

E o que teria ocorrido, caso – como disseram fontes russas – tivesse sido atingido o avião de Vladimir Putin, que cruzou a mesma rota do voo da Malaysia Airlines? Os ucranianos não teriam da mesma forma – com a ajuda da imprensa “ocidental” e como fizeram com o avião malaio – acusado os rebeldes de ter derrubado o avião presidencial russo, por engano? Em todo caso, os últimos interessados e os que tinham mais a perder com a explosão do avião da Malaysia Airlines teriam sido exatamente os russos e os rebeldes ucranianos.

Enquanto a imprensa ocidental acusa os rebeldes e, eventualmente, o próprio Kremlin,­ de ter derrubado o avião de passageiros, Obama afirma que Israel – que acusa sem confirmação o Hamas de sequestro e assassinato de três adolescentes – “está apenas se defendendo”, na Faixa de Gaza, e é acompanhado, nisso, pelos mesmos “analistas” e editorialistas que atacam o comportamento da Rússia na Ucrânia.

Há pouca diferença dessas campanhas com outras, como a que afirmou, durante anos, sem nenhuma prova, que havia armas de destruição no Iraque. A imprensa nazista passou anos recorrendo ao mesmo tipo de gente, de “analistas” raciais a “entendidos” em geopolítica, para explicar e contextualizar os perigos do judaísmo para o mundo, e a sua vinculação com os bolcheviques comunistas.

Quando a Alemanha de Hitler dominava a Europa, os nazistas costumavam matar dez reféns para cada soldado alemão que sofria um atentado. Na ofensiva de Tel-Aviv em Gaza, a mídia “ocidental” parece achar normal que a proporção de civis mortos e feridos, seja de mais de 20 palestinos para cada israelense atingido em combate ou pelos foguetes artesanais do Hamas, e que boa parte do território – com mais de 4 mil habitantes por quilômetro quadrado – já tenha sido destruída, deixando mais de 100 mil desabrigados.

Ao bombardear mulheres e velhos, meninos e meninas, apartamentos e ruas de Gaza, Israel implantou, regou e alimentou, com ossos e sangue – como faziam os nazistas com suas experiências com repolhos no campo de extermínio de Maidanek – um ódio profundo e incomensurável em nova geração de palestinos, da mesma forma que, ao destruir o Iraque, os Estados Unidos abriram caminho para Bagdá e Mossul para os terroristas da Al Qaeda.

Quando se tornar impossível a sobrevivência e a permanência, dentro das estreitas fronteiras de sua gaiola de escombros, cercada por muros e arame farpado, dos quase 2 milhões de palestinos que vivem em Gaza, será que os israelenses se inspirarão em seus algozes de um outro gueto, o de Varsóvia? Lá, judeus de toda a Europa foram amontoados, sem água, luz, comida ou aquecimento, durante meses a fio, para morrer de tifo e outras doenças contagiosas. Finalmente, foram levados para campos – como Israel pode fazer com os palestinos – se quiser, teoricamente, assisti-los “humanitariamente”.

A outra opção é entrar – como fizeram os SS do Brigadeführer Jürgen Stroop há exatamente 71 anos – com tanques e lança-chamas no meio das ruínas, no Gueto de Varsóvia, e caçar, um por um, os sobreviventes, até o último homem, mulher ou criança, como se fossem ratos.

As ações do governo israelense são muito contestadas por parte da oposição israelense e também por integrantes da comunidade judaica espalhados pelo mundo. Mas a julgar pelo noticiário da imprensa “ocidental”, essas vozes dissonantes tampouco existem.

domingo, 24 de agosto de 2014

Danos e tragédias: Vigiai e protegei os inocentes!



A Guerra de culpas que acabam sendo divididas
Por Antonio Siqueira - Do Rio de Janeiro
em um breve retorno


Hamas



















Ao promover uma invasão de terras, os membros do MST seguem rigorosamente as instruções fornecidas por seus líderes. Na hora do enfrentamento, as crianças vão na frente, formando um escudo humano para proteção dos marmanjos. Isso é algo a que estamos habituados a assistir aqui, bem perto dos nossos olhos.

Não pode nos surpreender, portanto, que o Hamas, na guerra que promove contra Israel desde a faixa de Gaza, utilize escolas e hospitais como bases para lançamento de seus foguetes para, depois, derramar lágrimas de crocodilo sobre imagens dos danos ali causados. É o Hamas que impõe seu totalitarismo religioso fanático sobre a pacífica população da faixa de Gaza e não Israel. É o Hamas que está se lixando para os males que afligem a população civil da região sobre a qual impõe sua insensível tirania.

Com muita razão aliás, o noticiário sobre o conflito observa uma grande desproporção entre as potencialidades bélicas de ambos os lados. Mas é muito difícil entender o tipo de justa proporção que se poderia esperar naquelas circunstâncias. Se o problema do conflito ali travado é a desproporcionalidade das forças combatentes e não a existência de um grupo terrorista islâmico agressor na fronteira de Israel, com o intuito explícito de o destruir, torna-se indispensável definir o que seria uma justa proporção aplicada ao caso.

Indago: para atender a esse clamor, Israel deveria abandonar o armamento que usa e passar a empregar mísseis de fabricação caseira? Seria isso o que se espera? Ou, quem sabe, Israel deveria adotar atitude passiva enquanto os radicais do Hamas despacham seus artefatos desde os telhados de Gaza? Existem extensas áreas despovoadas ou muito pouco povoadas em Gaza. Por que os terroristas do Hamas se abrigam exatamente nos setores urbanos mais densamente ocupados? E é israelense a responsabilidade pelos danos? Vigiai e protegei os inocentes!

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Nos Arcabouços das Grandes Guerras




Por Antonio Siqueira - Do Rio de Janeiro


@arte__larrouse__enciclopédia





















Desde tempos imemoriais, a Europa foi  marcada pela guerra e pela crença de que seus limites eram os limites do mundo. Ainda antes de Cristo, dezenas de conflitos mancharam de sangue suas montanhas e vales, mares e rios,  praias e ilhas do Mediterrâneo.

Às invasões dóricas, seguiram-se as guerras entre romanos e etruscos; as que opunham  cidades-estado gregas, como Esparta e Argos; as guerras persas e as sicilianas; as do Peloponeso; as invasões Celtas e as Púnicas.

No primeiro milênio, entre muitas outras, tivemos as Guerras Ibéricas; a conquista romana da Bretanha; as Guerras Góticas; as guerras civis romanas; a Reconquista; as invasões húngaras; persas contra iberos; os Rus contra Bizâncio.

O segundo milênio começou com a guerra germano-polonesa de 1002; seguida das expedições genovesas à Sardenha; da conquista normanda da Inglaterra, e depois, da Irlanda; e outras disputas, como a Rebelião Saxônica; a Guerra de Independência da Escócia; a guerra dos otomanos contra os sérvios; a Rebelião dos Münster; a Guerra Anglo-Espanhola; as guerras de sucessão; as Guerras Napoleônicas, etc.


Guerras Planetárias do Século XX e do Terceiro Milênio 

Em extensão, duração, e intensidade, nenhuma se comparou, no entanto, à Primeira Guerra Mundial, com 16 milhões de mortos e 20 milhões de feridos, ao longo dos quatro anos de conflito; e à Segunda Guerra Mundial, com 85 milhões de mortos, em todo o mundo, se incluirmos os que pereceram pelo genocídio, as fomes e as doenças.

A Segunda Guerra Mundial foi tão desastrosa para a Europa, que, mesmo dividida, entre a OTAN e o Pacto de Varsóvia, países como a França e a Alemanha fizeram grande esforço, a partir da Comunidade do Carvão e do Aço, para forjar a Comunidade Econômica Européia e a União Européia, com a esperança de que, ao menos entre eles, as duas maiores nações e rivais do oeste da Europa, não houvesse novos conflitos.

O problema é que, tendo começado como aliança voltada para a preservação da paz, a Comunidade Européia, por meio da OTAN, passou a agir como preposta dos interesses norte-americanos. E, mais tarde, como linha auxiliar dos EUA, em regiões nas quais os europeus já se sentiam nostálgicos de seu antigo poder colonial, como o Oriente Médio e o Norte da África, em países como o Iraque, o Afeganistão e a Líbia. Sem esquecermos do apoio incondicional às atrocidades cometidas por Israel desde à invasão do território palestino causados por um erro fatal da ONU, talvez o maior de todos os erros diplomáticos. O EUA e seus aliados forjaram um dos maiores banhos de sangue e extermínio de um só povo na história das guerras modernas.

Nos Balcãs, desmembrou-se a Iugoslávia, mas a intervenção militar posterior não estava voltada contra uma nação determinada, e sim para jogar, uns contra os outros, os pedaços desmembrados do país de Tito.

Ao meter-se na Ucrânia, junto com os EUA, para destruir o país, e promover uma guerra civil, depois de um golpe de Estado,  a UE abandonou, definitivamente, os ideais que lhe deram origem. E voltou a abrir as portas do velho continente aos Quatro Cavaleiros do Apocalipse, que tantas vezes já o percorreram no passado.



*Quero aqui agradecer a atenção  dispensada a este escriba e à esta coluna nestes dois anos em que escrevo neste blog. Problemas particulares tornam vital a interrupção deste que vos escreve em suas postagens e matérias neste espaço tão valoroso. Os poucos, porém ilustres, leitores do Blog Política & afins, elevaram esta página à referência de qualidade para alguns e abrilhantaram-na com comentários inteligentes. Saio de cena por tempo indeterminado, mas nos encontraremos em alguma “esquina” virtual ou viva neste universo por vezes impressionantemente fascinante, porém, noutras vezes, denso e pesado.
Espero, fervorosamente, que os demais membros articulistas desta página, deem continuidade a este trabalho tão útil à sociedade como um todo.

Com carinho e, mais uma vez, eternamente grato:

Antonio Siqueira